Faz anos que não escrevo, perdi a vontade.

Parecia que àquela à quem vos escrevia não existia mais logo… não havia porquê escrever.

Aliás, só por via das dúvidas, ela não existe mesmo. E, ainda bem!

Mas, era ela quem criava poesias e vivia sonhando com o amor. Ela achava que a vida era boa e que tudo dava-se um jeito. Ela tirava coisas boas de suas dores e continuava em frente crendo que ainda daria um jeito nesse mundão caótico.

Já eu…

Faz quase 10 anos que não sei como é ser adulta, e pra falar a verdade, não tenho a mínima vontade de ser.

Eu fiz tudo que disseram que precisava ser feito. Até fiz a faculdade que eu amava. E, tinha sonhos (não que ainda não tenha). É bem difícil ser adulto num país onde você tem que escolher entre comer pão ou arroz. Entre pagar uma clínica médica ou colocar gasolina. Entre ficar em casa guardando dinheiro ou sair e ser feliz sem pensar em nada.

Confesso, que todo dia me pergunto se falhei como adulta. Se tinha algo no script que eu não li e por isso tá tudo um quase mundo invertido. Se eu deveria ter tentado me encaixar melhor no sistema e não ter questionado. Assim, como tudo que quiseram que eu acreditasse.

Fico sempre com medo de ser feliz à mercê da espreita da tristeza, porque vamos combinar, ela sempre vem e escancara meu eu por completo.

Escrevendo percebo que ainda sou boa nisso. Sou boa em sentir sentimentos ruins e transformar em poesia. Mas, eu só queria ser feliz sem medo de ser feliz, sabe?

Aquela pessoa que escrevia ainda não sabia o que era viver de verdade. Ela nem sabia o que era o amor…

Soube. Mas, nunca pensou que amar era sufocante. Porque amar pode acabar. Amar pode ser só uma lembrança feliz com um rombo gigantesco no peito.

Quando escrevo tenho vontade de ser escritora profissional como sempre quis? Ganhar dinheiro com isso, mas com que sorte?

Aquela menina que escrevia achava que era só lutar e ir atrás que tudo aconteceria. Hoje eu sei que o nome disso é meritocracia e bem…meritocracia não existe.

Ou a pessoa tem sorte, ou ela tem sorte e oportunidade, ou ela tem Contatos.

Infelizmente, nenhum desses é meu caso, mesmo os recrutadores do LinkedIn falando que eu tenho um “ótimo background”. O que pra mim não serve de nada já que também sou mulher e não homem.

Hoje eu sou boa em militar.  Uma bela de uma militante na minha cabeça isso sim e nada mais. Porém, sigo.

O futuro parece bom, mas ele demora pra chegar e enquanto ele não vem cacos de vidro se formam no meu coração.

Medos, ansiedades e lágrimas. Porque percebo que por mais que eu adore planejar as coisas… o universo vem e acaba com a brincadeira. Eu entendo que não posso controlar nada e que as coisas são como elas são. Mas, me planejar me dava alívio. Me reconfortava e fazia eu acreditar que podia, sabe? Sei lá, que coisas boas iam acontecer porque eu me planejei.

Mas, a vida não é assim.

Eu sei que em momentos de tristeza e dor só pensamos no quão ruim é sentir. Mas, precisamos ao menos tentar olhar para as coisas boas e perceber o que ficou. O que ainda temos para sermos felizes, o que ainda dá pra fazer, o que podemos ser gratos.

E, o mais importante.

Sabermos que enquanto estivermos respirando ainda podemos seguir em frente e acharmos outras formas de sonharmos.

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ABOUT THE AUTHOR

Criadora do blog em 2014. A desastrada da família com coração grandão. Apertadora de bichanos em tempo integral. Vivendo na cidade grande, mas com o coração na calmaria de um pôr-do-sol. Aprecidadora de sons parisienses, jazz e cappuccinos no outono. ♥

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