Desde aquele dia, nunca mais parei


A verdade é que eu sempre criei muitas expectativas.
Tive um registro impecável de perfeição comigo mesma, logo minha vida precisava do mesmo requisito.
Eu me ausentava da realidade, enquanto buscava viver o sonho no meu mundo de fantasias.
Sempre fui uma menina muito receosa, que vivia (e, ainda vive, às vezes) com os pés atrás.
Devido a um histórico falido de casos e acasos, confiar não era algo muito presente no meu dicionário.
Conseguia enfrentar cada desafio, cada provamento e cada luta de cabeça erguida. 
Cheia de dores e machucados, no entanto era capaz de me levantar.
Mas, infelizmente, com tudo isso meu coração se fechava cada vez mais.
Me reconstruía sozinha.
E, não demonstrava absolutamente nada.
Nem dor, nem amor.
Nem carinho, nem choro.
Estabeleci padrões por pura segurança de mim mesma.
Cansei de ouvir as mesmas histórias repetitivas das minhas amigas pedindo conselhos.
Dei os mesmos conselhos inúmeras vezes.
Repetidamente.
E, então evitava muita coisa para me proteger.
Ninguém mais ia levar meu coração.
Ninguém mais ia me iludir, porque eu teria a consciência antes de cair.
Achei que estava passos à frente de pessoas que amavam.
Elas só sofriam e se enganavam.
"Gente que ama não enxerga o que tá bem na cara, e ainda por cima quer se convencer do contrário."
Isso para mim era o cúmulo do absurdo.
É, eu tive medo do amor.
Eu tive medo de ser sincera, abaixar minha guarda e assim me fazer vulnerável ao outro.
Não queria que usassem minhas fraquezas contra mim.
Como iria me recuperar disso tudo? Porque você sabe que a facada nunca vem de um inimigo.
Achei que tinha vencido, quando na verdade, perdi.
Perdi chances e chances de ser feliz.
Eu perdi por medo, o que poderia ter ganhado.
E, cada vez mais impunha limitações para não correr riscos.
De repente, tinha me tornado alguém que não era capaz de reconhecer no espelho.
Era uma sombra do que um dia já tinha sido.
Mesmo com toda proteção, toda privação, toda limitação, todo o afastamento...
O que eu fiz em busca de cautela e resguardo, acabou sendo meu ponto inicial para a pessoa insensível que tinha me tornado.
E, quando eu fui perceber já era tarde.
Aquela personalidade, aquele jeito, aquela pessoa já estava enraizada em mim.
Me feri mais do que se tivesse tentando...
Se eu tivesse ousado em ter coragem, nunca precisaria dar dois passos para frente e um para trás.
Tive que começar um processo de "desintoxicação" para tentar recuperar meu "eu verdadeiro".
Tentar resgatar minha verdadeira essência foi algo trabalhoso.
No entanto, sem perceber, consegui me achar.
Claro, que foi àquela luta...
Abrir mão do orgulho.
Parar de tentar (tanto) se auto-proteger.
Largar do medo de se ferir.
E, querer amar, porque o amor é uma escolha constante, diária.
Então, sem mais sem menos...
Sem eu nem perceber, tinha voltado a amar.
E, confesso para vocês que desde aquele dia, nunca mais parei.
Foi a melhor decisão que tomei na vida.
Escolher o amor...

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ABOUT THE AUTHOR

Criadora do blog em 2014. A desastrada da família com coração grandão. Apertadora de bichanos em tempo integral. Vivendo na cidade grande, mas com o coração na calmaria de um pôr-do-sol. Aprecidadora de sons parisienses, jazz e cappuccinos no outono. ♥

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