Um cavalheiro vale mais do que mil diamantes

Eram três e meia, entre a pausa do cafezinho e a aula de desenho. A conversa fluía de modo que as nuvens cinzentas abriam um majestoso azul turquesa no céu.
Paguei os dois cafés e fui embora.
E, então me perguntaram por quê eu paguei se fora convidada.
Me peguei presa pela pergunta, já que pra mim sempre fora óbvia a resposta. Oras, paguei porque tinha que ser pago e, é isso que se faz hoje em dia.
Àquilo era um absurdo para alguém que nascera nos anos trinta, porque convidar alguém para algo significa que já está implícito no convite o pagamento da dívida.
Mudei de assunto, depois de tantos porquês, já que não queria continuar uma conversa que envolvia dinheiro, apesar de saber muito bem que não se tratava daquilo.
Novamente, entramos em assuntos relacionados aos costumes.
Fui pega por um exemplo que me deixou à merce da vontade de querer para mim.
O tal cara que abre portas, entrega flores pegadas de jardins roubados e empresta o casaco nos dias frios de outono, existia!
Na verdade, eles existem... só estão espalhados por aí. 
Escondidos do mundo alheio que não é bom o suficiente para eles se mostrarem.
Um cavalheiro vale mais do que mil diamantes, e isso não significa que ele seja menos másculo. Na verdade, eu creio que esses são os verdadeiros machos que fedem à graxa de fim de semana.
Eu fiquei boquiaberta com todos os exemplos, porque é raro de se ver ao vivo tal coisa. Me sinto como no Discovery, quando há um documentário sobre animais extintos e você se imagina como seria encontrar com o tal animal ainda vivo.
O cavalheirismo vai além de gestos românticos e fofuras inesperadas, não é aí que eu me prendo num encanto magnético. Não é aí que eu me derreto e me transformo em açúcar. Não é aí que sou laçada.
Cavalheirismo é questão de educação, de modos, de respeito. É ensinado de berço, no coração, para o coração alheio. Cavalheirismo não se mede pelas ações feitas em público, mas pelas ações feitas em silêncio. Cavalheirismo é observar o outro, por isso se empresta o casaco, porque notou-se que a pessoa do seu lado tremia de frio. Cavalheirismo não é só abrir a porta do carro porque é seu dever, mas porque é uma forma de ser educado. Cavalheirismo é beijar a mão por educação e oferecer o braço para uma caminhada. Cavalheirismo (isso sim foi algo que nunca me passou pela mente) é você ficar à esquerda de alguém na calçada, evitando qualquer perigo, mesmo que não haja sinal de qualquer perigo eminente.
Cavalheirismo é aprender com seu avó, pai, tio, ou seja quem for...
Não posso acreditar nesse mundo que despreza o respeito!
Desde quando educação, modos e cuidados foram menosprezados?
Por quê banalizaram esse tipo de coisa?
Agora, vão me dizer que se eu quero isso eu vivo num mundo arcaico e ultrapassado, onde eu não quero igualdade e blá blá blá.
Ah, me poupem todas essas feministas erradas e esses homens que por não serem capazes de tal cavalheirismo, cospem essas asneiras para mim!
O mundo considera normal o que é errado e imundo, mas o que é certo e puro eles repudiam e reprendem.
Se formos tão ignorantes e intolerantes assim, estaremos perdidos para sempre.
Quando amamos alguém, o que vem em primeiro lugar é o respeito, educação e cuidado.
Cuidamos como se fossemos pais e mães, mesmo que não sejamos ainda.
Não é preciso ser incrivelmente lindo, nem àquele que vive dando presentes (caros $$$), ou àquele romântico incorrigível.
O segredo é: seja educado.
Bom, retiro o que disse. Não há segredo algum.
Só passem mais tempo com os mais velhos porque eles têm muito a ensinar.


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ABOUT THE AUTHOR

Criadora do blog em 2014. A desastrada da família com coração grandão. Apertadora de bichanos em tempo integral. Vivendo na cidade grande, mas com o coração na calmaria de um pôr-do-sol. Aprecidadora de sons parisienses, jazz e cappuccinos no outono. ♥

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